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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Boyzone She Moved Through The Fair(traditional Irish folk song).

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A Fofoca Como Uma das Máscaras da Inveja (*Por Roque Theophilo)


"Conceito de Inveja
A inveja, segundo o Dicionário Aurélio, é o “Desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem Desejo violento de possuir o bem alheio”. É muito elucidativa a descrição de Inveja escrita por Ovídio: “A Inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais de acende o fogo, há sempre trevas espessas(…) . Assiste com despeito aos sucessos dos homens e este espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é seu suplício”.
(…) A aversão à inveja é milenar, pois ela sempre foi desdenhada entre todos os sentimentos humanos. É a vilã contumaz das histórias, trazendo consigo a devastação e a catástrofe. (…) Mesmo assim, uma pessoa razoável é capaz de admitir com pudor, ter alojado sentimentos claramente invejosos em determinadas situações da vida, principalmente quando hostiliza e se entristece com o sucesso do outro, lamentando a vitória de um rival. (…). Descobri-la, camuflada em nosso inconsciente, como um espião inimigo, faz-nos pensar somente em dar-lhe um fim rápido e definitivo. Tentar extinguir a inveja é, além de inútil, bastante perigoso. Só faz estimular seu apetite de desmancha-prazeres e ainda cria a ilusória impressão de havê-la derrotado de uma vez por todas, coisa humanamente impossível. Geralmente, apesar da estima que se tem por alguém e se este tiver “status”, a inveja cavilosamente se instala, como produto de comparação, com as outras pessoas, sendo, pois uma auto aversão pelo fato do invejoso não ser igual aos outros.
Diferença entre inveja, e a luta para a conquista do bem-estar.
Não deve ser confundido o fato de uma pessoa lutar para conquistar o objeto de desejo, e pela conquista dos seus ideais quando feito com ética. Este eu competitivo está muito enraizado dentro de nós. Se passarmos a viver a vida com uma forma de competição regrada, com certeza aproveitaremos e muito as oportunidades que termos, e mesmo diante do fracasso saberemos reconquistar o elã pela luta sem o teor da inveja pela vitória do outro. (…)
Existe, entretanto, no invejoso uma compulsão de que se uma pessoa se destaca em alguma atividade, por mais simples que possa parecer, ele está sempre pronto para criticar e tentar minimizar o sucesso de seu próximo. Um sentimento de raiva, de ira, se apossa geralmente do invejoso porque ele sente-se o merecedor da conquista da outra pessoa, achando que ela invadiu o seu território, não atinando para a sua incapacidade ou inércia, sendo capaz de boicotar, de “fofocar” ou de preparar armadilhas, a fim de destruir o outro, para provar, ao menos hipocritamente para si mesmo, que ele é melhor, embora no seu íntimo, sente-se menor do que os outros.
(…) A melhor solução pode estar na forma de utilizar e de encarar a inveja, que visualizada em termos comparativos pessoais de evolução, do antes e depois, do ontem e do hoje, deixa de ser inveja destrutiva para ser uma inveja de autoestímulo, isto é o padrão de comparação deixa de ser externo e passa a ser interno.
Considerações Psiquiátricas
(…) Sob o ponto de vista psicológico, a alegria, o medo, a ansiedade e a ira são emoções naturais que ocorrem com todos os indivíduos, das mais diferentes culturas. As emoções estáveis afastam, como poderosos motivadores, a conduta invejosa, porque as emoções exercem importante papel no bem estar psicológico dos indivíduos afastando o poder reptício da instalação da inveja. As emoções têm um forte componente na saúde e na doença porque através das propriedades motivacionais, têm a capacidade de estabelecer condutas “sadias” (exercício físico moderado, dieta equilibrada, descanso, lazer, etc.) e “não sadias” (consumo de drogas, sedentarismo, desânimo, ansiedade, ira, tristeza-depressão, sendo consideradas as três ultimas emoções negativas as mais importantes).
Em suma os componentes doentios que acompanham os invejosos, não acontecem com os portadores das emoções positivas que vivem experiências agradáveis como a alegria, a felicidade e o amor. Hoje há dados suficientes para afirmar que as emoções positivas potencializam a saúde mental, enquanto as emoções negativas tendem a diminui-la.
O sintoma nuclear dos sintomas cognitivos é o medo da avaliação negativa que os outros podem fazer, e defensivamente seus portadores atacam antes de serem atacados, criando um clima que se caracteriza com uma forte incidência de inveja. Quando o invejoso se sente ameaçado na presença de outros, procura situações defensivas, como por exemplo, a “fofoca”, repasse distorcido e mal intencionado de um fato com uma única intenção de difamar a pessoa do invejado, quer pela calúnia, informação falsa, mentirosa, difamadora etc. O fofoqueiro, em lugar de se esforçar para crescer e progredir prefere denegrir os outros para compensar a sua indolência e ociosidade. (…)
Máscaras da Inveja
No dicionário de Psicologia de Henri Pieron, o verbete máscara tem o designativo de persona e vem com a seguinte conceituação: “Máscara que simula a individualidade e dá, tanto aos outros como a si próprio, a ilusão da individualidade, embora só se trate de uma máscara de “psique coletiva” que representa um papel” (Jung,1923). A máscara é, pois, um artefato que caracteriza um aspecto superficial e falso. (…) “A inveja tem uma grande máscara que é o despeito” (…)
Compulsiva: É o desconforto, sentido por uma situação vivida pelo outro. (…) Exemplos: a inveja do feio pelo bonito, o rico do pobre, o inculto do inteligente etc.
Verdadeira: A sua característica é o fato de que o “bem alheio é considerado um mal próprio”, (…) a autoimagem que criam faz com que se sintam humilhados aos seus olhos e ao dos demais, daí a constante antipatia e aversão do invejoso por pessoas felizes e benquistas por causa da baixa estima.
Lamentação: Os invejosos julgando-se abandonados e esquecidos (…) por acharem que somente o seu vizinho é privilegiado. (…)
Mascarada: A máscara da hipocrisia é um disfarce para esconder os invejosos das verdadeiras intenções. A inveja mascarada faz com que a sua vítima expresse sorrisos afetuosos e palavras amáveis com o intuito de encobrir a compulsão maldosa que carrega dentro de si. (…).
Piedosa: Os que se mostram mansos e humildes de coração podem ser portadores da inveja “piedosa” (…).
Melancólica: O pensamento de Tomas de Aquino ao dizer ”Pode-se ter tristeza (melancolia) diante do bem alheio não porque o bem que ele tem nos falta”. A melancolia surge porque não termos as mesmas coisas que admiramos nele. (…).
Maledicente: É torpe, ignóbil. Repugnante, obscena por ser desonesta. (…) “o bem alheio têm por mal próprio, e não podem conter-se que não falem mal da pessoa invejada, vomitando contra ela detrações e calúnias”.
Competitiva: A sua arena situa-se quando duas ou mais pessoas competem quer em emulação construtiva e portanto positiva, ou destrutiva, que é negativa. O consumismo desenfreado é um forte componente para a instalação da inveja competitiva que está se ampliando cada vez mais
Odiosa: Tais invejosos acham que não existe bondade, e se alguém aparece com tal comportamento, o catalogam de hipócrita, dizendo que atrás de tal bondade esconde-se algum interesse escuso (…).
Insensata: Os invejosos insensatos pensam “Se eu tivesse a metade que o outro tem eu seria feliz”. Será? (…).
Passiva: São servis, porque sob a máscara da servidão vão repticiamente corroendo as bases das pessoas que invejam, ao contrário do ativo que é eloqüente, usando uma verborragia com o intuito de envolver e enganar os outros com palavras vazias.
Medíocre: Os invejosos envolvidos pela mediocridade bajulam perdendo os foros das qualidades boas que determinam a conduta e a concepção ética, em razão da forte ansiedade que sentem.
Orgulhosa: São arrogantes e por vaidade perdem a dignidade, que é a sua antítese. Sem autoestima porque não tem amor próprio se alimentam de elogios bajulatórios (…) estão sempre preocupados com “o que será que os outros pensarão de mim”.
Vaidosa: Aquele que tem o desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens vive se comparando aos outros, e apesar de a pessoa comparada ser inferior assim mesmo o invejoso vaidoso através da competitividade maligna compara-se ao inferior. Fica procurando “agulha no palheiro”, para encontrar a mínima diferença, para logo passar a sentir inveja da pequena diferença que o outro tem (…).
Neurótica: Os portadores de distúrbios de personalidade podem apresentar comportamentos invejosos devidos a ressentimentos oriundos de depressões e de distimia, que é um estado em que a pessoa está sempre mal humorada, melancólica, etc. "
*Roque Theophilo era Psicólogo e Jornalista Profissional, é autor do título «O Amigo Psicólogo». Foi Presidente das Academia Brasileira de Psicologia e da Academia Internacional de Psicologia, e um dos pioneiros da Psicologia no Brasil.
FONTE: Blog Papeando com a Psicologia / Academia Brasileira de Psicologia